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A Green Community

Publicado em 09.08.2022
Artigo Projeto Green Community

O projeto “A Green Community” foi desenvolvido no âmbito do Concurso de Arquitetura da Saint-Gobain com implantação em Varsóvia, Polónia, e pretende conjugar a construção nova com a reabilitação da fábrica existente conformando um espaço calmo e coletivo no interior do quarteirão. A nossa ideia centrou-se no mínimo de impacto possível nos recursos, daí a importância do reuso dos tijolos dos edifícios demolidos para revestir as novas fachadas e substituir os degradados.

O terreno encontra-se próximo de uma rede de mobilidade forte, que abrange tanto os transportes públicos (autocarro, comboio, metro) como o transporte rodoviário particular, e de espaços verdes e equipamentos públicos importantes. Dado que procuramos promover um tipo de mobilidade suave, propusemos a extensão da ciclovia já presente junto à estação de camionagem, de modo a unir estes pontos de interesse de uma forma mais segura e sustentável.

Nesse sentido, o desenho do quarteirão resultou numa forma fechada consequente do vento e do ruído produzido pela proximidade aos meios de transporte. De igual modo, a orientação solar condicionou o desenho dos edifícios levando à abertura de um pátio nos volumes orientados a norte-sul, de forma a permitir a insolação direta dos compartimentos a norte. Este desenho procurou atribuir valor à fábrica existente e à sua história, incluindo espaços verdes e caminhos que permitem o atravessamento do quarteirão e a união do programa proposto. Estes integram uma praça e um parque autóctone no seu interior e espaços públicos comerciais em relação com a rua.

O programa do quarteirão concentra uma residência de estudantes no edifício em L, apartamentos e escritórios no bloco a nascente, e áreas sociais, expositivas e artísticas relacionadas com a reabilitação a sul. O objetivo foi desenvolver o piso térreo enquanto zona de socialização e comércio, sendo que os pisos superiores foram reservados para programas mais privados como quartos e apartamentos.

Nas construções novas optámos pelo uso de uma estrutura em CLT (Cross Laminated Timber) que foi de encontro à ideia de pré-fabricação definida pela modulação do quarto individual da residência e que provou ser a solução mais sustentável e económica. No entanto, devido à forma e à necessidade da criação de espaços mais amplos e flexíveis recorremos ao sistema construtivo em betão no piso térreo resolvendo também a questão do contacto da madeira com o solo. Na fábrica pós-industrial do início do século XX, de paredes maciças de tijolo de 60 cm e estrutura metálica, foi necessário substituir a cobertura e os tijolos degradados, adotando técnicas de manutenção e reparação, de modo a expor o tijolo das fachadas à semelhança da sua linguagem original.

Tendo em conta que as temperaturas na Polónia já registaram um mínimo de -31ºC e um máximo de 37ºC nos últimos 70 anos, projetámos clarabóias tanto na residência de estudantes como na fábrica aproveitando o efeito de estufa para aumentar a temperatura de forma passiva no inverno, garantindo assim o conforto térmico no interior. No verão, estas abrem permitindo ventilação natural e, conjugadas com sistemas de ventilação mecânica, possibilitam a renovação do ar. Estas clarabóias não são vistas apenas de um modo funcional, estão conjugadas com programas mais sociais, permitindo a relação do pé-direito quíntuplo com a cobertura ajardinada na residência e a criação de zonas de coworking na reabilitação. Para além das clarabóias, os espaços “in between” junto aos quartos a sul servem o mesmo propósito de controlo térmico, trazendo para dentro a relação com os espaços verdes.

Quando os sistemas passivos não são suficientes complementamos com sistemas de aquecimento ativos que tiram partido da energia solar (painéis solares) e do desvio das águas pluviais para o aquecimento do piso radiante.

Ao nível acústico recorremos a materiais absorsores para reduzir o ruído aéreo e de impacto, de forma a permitir uma vida autónoma, mas em comunidade.

O recurso às energias renováveis permite a produção de energia através de painéis fotovoltaicos (vidro fotovoltaico nas clarabóias) e de microturbinas eólicas na cumeeira dos telhados da fábrica. Isso viabiliza a eficiência energética do projeto numa tentativa de o fazer corresponder a edifícios nZEB.

Adriana Pinto e Inês Matos, vencedoras da fase nacional do Concurso para Estudantes de Arquitetura da Saint-Gobain.