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Isolar as casas é urgente para “devolver o conforto térmico e financeiro às famílias”

Publicado em 10.12.2021
Sistema ETICS Carolina Mateus

Ainda há muitos portugueses que passam frio dentro de casa. Há fatores sociais e económicos a contribuir para este fenómeno - cerca de 17,5% da população não tem meios para manter a sua habitação aquecida nos meses de temperaturas mais baixas, segundo estima o Eurostat - mas também há questões culturais e históricas, nomeadamente a ideia enraizada de que Portugal tem um clima ameno, acompanhada de problemas estruturais de construção. Mas a pandemia trouxe o conforto das casas para o topo das prioridades e as ajudas públicas à promoção da eficiência energética - a par da subida do custo da eletricidade e gás - estão a fazer mudar as mentalidades. Por outro lado, hoje há várias soluções de isolamento no mercado que são compatíveis com todo o tipo de casas, segundo dizem os especialistas.

E este é mesmo um passo a dar para que seja possível “devolver o conforto térmico e financeiro às famílias portuguesas”, defende Carolina Mateus, gestora de produto da Saint-Gobain Portugal, em entrevista ao idealista/news.

Os dados mais recentes do Eurostat falam por si: numa lista de 27 estados-membros da União Europeia (UE), Portugal é mesmo o quarto país com maior percentagem de população que não consegue aquecer a casa. Somos apenas superados pela Bulgária (27,5%), Lituânia (23,1%) e Chipre (20,9%), e estamos bem acima da média da UE que se situa nos 8,2%.

Estes números refletem uma realidade nua e crua: faltam casas com eficiência energética em Portugal. “Com os dias mais frios a chegar um pouco por todo o país, inúmeras famílias continuam a viver em imóveis que não estão preparados para receber as baixas temperaturas”, resume Carolina Mateus na entrevista realizada por escrito.

A verdade é que para melhorar a eficiência energética das casas há muito que se pode fazer: substituir janelas e portas, instalar sistemas de aquecimento e reforçar o isolamento térmico da casa. Uma das soluções de isolamento térmico exterior que tem registado “um enorme crescimento quer em construção nova, quer em reabilitação” é o sistema ETICS (External Thermal Insulation Composite System), segundo revela a gestora de produto da Saint-Gobain Portugal.

Mas o que é, afinal, o sistema ETICS? Tal como explica Carolina Mateus, esta solução de isolamento térmico exterior pode ser aplicada tanto em construção nova como em reabilitação – embora haja diferenças entre as duas. E pode ser usada em edifícios unifamiliares (moradias), mas também multifamiliares. Sendo aplicada no exterior “não condiciona a área útil do edifício”, refere. Mas uma das “principais vantagens” é mesmo o contributo para uma “maior eficiência energética (menores necessidades de aquecimento e menores custos) e um maior conforto interior” das casas, conclui.

Investir no isolamento térmico da casa é mesmo uma das soluções enquadradas no programa Edifícios + Sustentáveis, que foi prolongado até 31 de março de 2021 e aumentou recentemente a dotação total para 45 milhões de euros (+15 milhões do que anunciado em junho). Esta iniciativa prevê a comparticipação de 85% até um limite de 3.000 euros para soluções de isolamento térmico da fachada, em que a placa isolante seja composta por materiais de base natural (ecomateriais) ou que incorpore materiais reciclados – como é o caso do sistema ETICS.

Claro que antes de investir num sistema de isolamento térmico ou em qualquer outra solução de eficiência energética é importante estar bem informado. Nesta entrevista - que agora partilhamos na íntegra - Carolina Mateus passa a pente fino tudo o que é preciso saber sobre o sistema ETICS, desde as vantagens para a construção, valores de investimento estimados e aspetos a ter em conta em cada situação.

O que é o sistema ETICS?

O sistema ETICS (External Thermal Insulation Composite System) é um sistema de isolamento térmico pelo exterior usado na construção e é constituído pelas seguintes camadas:

  • argamassa de colagem (das placas isolantes);

  • placa isolante (lã mineral, cortiça, EPS, etc);

  • barramento armado;

  • acabamento (com aplicação de primário caso seja necessário).

Quais as vantagens que a sua utilização apresenta?

O isolamento térmico pelo exterior (ETICS) é uma solução aplicada de forma contínua, ao longo de toda a fachada, permitindo a minimização de pontes térmicas e consequentemente perdas de calor. Neste sentido, uma das principais vantagens é o contributo para uma maior eficiência energética (menores necessidades de aquecimento e menores custos) e um maior conforto interior. Mas podemos enumerar outras:

  • é compatível com vários tipos de suportes e por isso pode ser aplicado tanto em reabilitação como em construção nova;

  • não compromete a habitabilidade de um edifício enquanto está a ser intervencionado (no caso de uma situação de reabilitação);

  • é uma solução que sendo aplicada pelo exterior não condiciona a área útil do edifício (há um maior aproveitamento da área útil, comparando com outras soluções como por exemplo o isolamento pelo interior);

  • permite vários tipos de acabamentos e ainda, dependendo dos constituintes do sistema, é possível ter um menor impacto ambiental.

Apresenta-se como uma solução amiga do ambiente. Porquê?

Sim, como referido anteriormente, é uma solução que permite a redução de consumos energéticos, não só pela barreira térmica oferecida pelo isolamento térmico aplicado como pelo facto de ser contínuo, isto é, eliminando pontes térmicas. Outro aspeto que contribuirá para um menor impacto ambiental é a escolha dos materiais e elementos constituintes do sistema. Por exemplo, podemos optar por argamassas à base de cal em que o processo produtivo emite menos CO2 em detrimento de cimentícias ou placas de isolamento térmico naturais, ou com incorporação de material reciclado e que, por fim, possam ser recicláveis no fim de vida. Desta forma atuamos segundo uma economia circular, diminuindo o consumo de materiais primas virgens.

"Com os dias mais frios a chegar um pouco por todo o país, inúmeras famílias continuam a viver em imóveis que não estão preparados para receber as baixas temperaturas".

Em que situações recomenda a aplicação do sistema ETICS?

O ETICS é compatível tanto com construção nova, como reabilitação, incluindo de edificado antigo em que as exigências de compatibilidade dos materiais (existentes e a aplicar) são bastante relevantes. Dada a sua versatilidade e, em específico, das argamassas que o constituem, é possível aderir o sistema a vários tipos de suporte, como betão, reboco, placa de gesso, placa de OSB, cerâmica, pintura, suportes irregulares de tabique ou à base de cal (comum em reabilitação). O importante é adequar o sistema ao projeto.

Qual o orçamento estimado para aplicar o sistema ETICS a uma moradia com 200 metros quadrados? Quanto tempo leva o processo?

O custo de aplicação de sistema ETICS (incluindo custo de materiais) depende de vários fatores, sendo os principais: tipo e espessura do isolamento térmico e custo de mão de obra (definido por cada empresa de aplicação).

De forma muito genérica e dando uma ordem de grandeza, pode dizer-se que a solução de ETICS, considerando uma espessura de 60 mm de isolamento térmico de lã mineral, rondará 35-40 euros/m2. No entanto, importa reforçar que é um valor meramente indicativo e que depende de vários fatores como referido. Já relativamente ao tempo de aplicação da solução, pode dizer-se que um aplicador especializado, em média, aplica cerca de 7 m2 de solução/dia de trabalho o que resulta em sensivelmente, considerando uma obra de 200 m2 e com 3 aplicadores, em 2 a 3 semanas.

Mais uma vez, importa realçar que são valores indicativos e que não é possível dar uma resposta estanque e precisa, porque depende do número de aplicadores por equipa, da experiência da mesma e condições climatéricas que podem afetar a produtividade.

"Empenhados em devolver o conforto térmico e financeiro às famílias portuguesas, lançámos a campanha 'Que Falta de ETICS!'".

Há diferenças se for feito de raiz no momento de construção ou numa reabilitação? De que ordem?

A principal diferença é a escolha de argamassa de colagem da placa isolante, porque depende do tipo de suporte existente no caso de reabilitação (por exemplo se é mais ou menos absorvente) e também da regularidade/planimetria do suporte. Além desta questão, numa reabilitação também se deve ter em atenção o estado de degradação do próprio suporte, se se encontra estável, se tem fissuras que precisam de ser tratadas, entre outras.

No caso de edificado antigo ou histórico (em tabique, à base de cal) a planimetria e o tipo de materiais que constituem o edifício são bastante particulares, o que resulta num especial cuidado na escolha da solução que se vai sobrepor, pois importa manter a alta permeabilidade da fachada e o seu comportamento mecânico.

Em construção nova, não existe ou é expectável que não existam problemas de estabilidade de suporte, à partida estará com uma boa planimetria e por isso não há necessidade de análise ou cuidados preliminares à aplicação de ETICS.

Sendo este um tipo de isolamento exterior, é aplicável a edifícios de apartamentos? Que tipo de isolamento térmico recomenda para apartamentos?

Sim, o ETICS é compatível com edifícios unifamiliares (moradias), mas também multifamiliares. Dada a legislação em vigor, e uma vez que edifícios multifamiliares habitualmente são edifícios em altura (>28 m), a solução exigida deve responder a elevados requisitos de reação ao fogo, pelo que o isolamento térmico adequado para este tipo de construções são as lãs minerais (lã de vidro ou lã de rocha).

A aplicação ou substituição do isolamento térmico nas paredes, recorrendo a ecomateriais ou a materiais reciclados, é um dos projetos abrangidos pelo programa Edifícios + Sustentáveis. O sistema ETICS está abrangido?

Sim, é um facto. O programa Edifícios + Sustentáveis comparticipa em 85%, até um limite de 3000 euros, soluções de isolamento térmico em fachada em que a placa isolante seja composta em mais de 70% da sua massa por materiais de origem natural ou mais de 50% da sua massa por materiais reciclados.

A utilização do ETICS em Portugal tenha registado um enorme crescimento quer em construção nova, quer em reabilitação, tem ainda muito espaço para crescer.

Recentemente a Saint-Gobain lançou a campanha “Que falta de ETICS!”. De que forma pretendem ajudar as famílias a isolar as suas casas?

Com os dias mais frios a chegar um pouco por todo o país, inúmeras famílias continuam a viver em imóveis que não estão preparados para receber as baixas temperaturas. Empenhados em devolver o conforto térmico e financeiro às famílias portuguesas, lançámos a campanha “Que Falta de ETICS!” num apelo à utilização do sistema ETICS enquanto solução de isolamento, com vantagens para a construção, para o cliente final e para o meio ambiente.

Muito embora a utilização do ETICS em Portugal tenha registado um enorme crescimento quer em construção nova, quer em reabilitação, tem ainda muito espaço para crescer. É por isso que com a Weber, líder de mercado no campo ETICS, queremos mostrar as vantagens destas soluções. Os sistemas webertherm são sistemas de isolamento térmico à medida das necessidades dos clientes, certificados por laboratórios externos e credenciados. Acrescentar ainda que conseguimos também prestar todo o apoio técnico em obra, no projeto e na realização de ensaios.

Que outras soluções de isolamento térmico recomenda?

Dentro de várias existentes, a fachada ventilada merece destaque. Esta solução permite uma aplicação contínua do isolamento ao longo da fachada e é um sistema que permite a circulação de ar em cortina entre o revestimento final e o isolamento térmico, permitindo a diminuição da temperatura da fachada no verão.

Este sistema é um pouco diferente do ETICS, pois é fixado ao suporte através de mênsulas, a estrutura do sistema é de alumínio de alta resistência, regulável (em função da espessura de isolamento térmico) e a camada protetora é fixada à estrutura para por fim receber o acabamento pretendido (pintura, acabamento areado, cerâmica).

Carolina Mateus, Gestora de Produto na Saint-Gobain Portugal in idealista/news