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Saint-Gobain a caminho das “zero emissões líquidas de carbono”

Publicado em 04.06.2021
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O plano está traçado e o objetivo é que, até 2050, as matérias- primas, os processos produtivos e a forma como se reutilizam os materiais contribuam para “minimizar o desperdício”. O “Plano de Sustentabilidade” da Saint-Gobain, segundo o CEO José Martos, é “ambicioso” e envolve todas as áreas do Grupo com um forte investimento em I&D. Atenta aos novos processos de urbanização e à urgência de medidas para aliviar as mudanças climáticas, o Grupo pretende, também, contribuir para “repensar os espaços de vida e os métodos de construção”.

Em Portugal desde 1962, o Grupo Saint-Gobain conta já com 11 empresas distribuídas pelo País. Em entrevista ao CONSTRUIR, José Martos, CEO Saint-Gobain em Portugal, revela que a ambição é “de continuar a crescer”, nomeadamente em segmentos de mercado “onde possa mos desenvolver novos modelos de negócio”. Além da aposta na sustentabilidade, o Grupo está atento às áreas da mobilidade sus tentável e de proteção da saúde.

Quais os objetivos da empresa para 2021?

Temos a ambição de continuar a crescer em Portugal, tanto nos nossos mercados mais tradicionais, como em novos segmentos de mercado onde possamos desenvolver novos modelos de negócio.

Este objetivo de crescimento deve ser alcançado pela Digitalização da experiência do cliente, pela Excelência Operacional e pela Sustentabilidade, de forma que todas as nossas ações contribuam para o nosso propósito último: “Making the World a Better Home”.

Pretendemos continuar a investir em I&D com vista a darmos continuidade ao desenvolvimento das nossas diversas áreas de negócio, a manter uma cultura corporativa robusta e genuína e dar seguimento ao trabalho que temos vindo a implementar no âmbito da sustentabilidade.

Que desafios impôs a pandemia, tanto em termos de equipa como de negócio?

O principal desafio está claramente centrado no imenso impacto humano e económico que está a ter. Consequentemente, a falta de confiança dos investidores no mercado da construção também afetou alguns sectores relacionados com o turismo e o retalho principalmente.

Atualmente, estamos já em franco processo de recuperação – e, na verdade, algumas das nossas áreas, como o caso da Construção, acabaram por não registar muitas quebras, visto que houve, claramente, vontade da parte das pessoas em remodelarem ou (re) construírem os seus espaços em caso, com a pandemia.

A gestão dos recursos humanos foi sempre um grande desafio, que assumimos deste o início, pois quisemos sempre que todos se sentissem serenos, protegidos, informados e igualmente motivados, desde o primeiro momento.

Presente em Portugal há tanto tempo, qual as áreas de negócio com maior crescimento?

A Saint-Gobain está presente no mercado português desde 1962, quando adquiriu parte das ações da Companhia Vidreira Nacional (Covina). Desde então, o grupo Saint-Gobain tem investido ativamente no mercado português, tanto em materiais de construção como no sector automóvel, chegando a 11 empresas distribuídas por todo o País e representadas por marcas líderes nos seus respetivos mercados como Weber, Placo, Isover, Climalit, Glassdrive, Sekurit, Norton.

O segmento dos materiais de construção tem assistido a um forte crescimento, que tem acelerado nos últimos anos. Não só há uma forte procura de vivendas, mas também estamos a ver um desenvolvimento da construção mais responsável e sustentável, tanto pelo Governo como pelos proprietários. Acho que esta vai a ser um dos grandes motores de progresso da economia e do sector nos próximos anos, tanto desde o ponto de vista normativo como pelas exigências dos particulares, os quais são cada vez mais responsáveis e exigentes pelo respeito do meio ambiente.

A promoção da sustentabilidade e da responsabilidade social tem sido uma das áreas de maior foco do Grupo com vista à neutralidade do carbono até 2050 e de contribuir para a meta da redução de emissões de CO2 do Grupo para 2030. Que ações tem sido desenvolvidas neste sentido?

Com o lançamento do “Plano de Sustentabilidade”, em Setembro de 2019, a Saint-Gobain anunciou o seu compromisso de alcançar zero emissões líquidas de carbono até 2050, um objetivo alinhado com a tarefa de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Este compromisso requer um ambicioso plano de ação que influenciará a forma como fazemos negócios, as matérias-primas que utilizamos, os nossos processos produtivos, a forma como reutilizamos materiais para minimizar o desperdício. Ou seja, de uma forma geral, todas e cada uma das nossas ações visam contribuir positivamente para o futuro do nosso planeta.

O conceito de conforto sustentável é aplicado desde a conceção e design do produto ou solução, à seleção de matérias-primas e recursos, processos de produção e distribuição de materiais. O mesmo reflete-se ainda na sensibilização para o consumo responsável de recursos e na promoção de comportamentos sustentáveis.

Respondendo aos seus interlocutores e a um mundo em mudança, a Saint-Gobain analisa os desafios que enfrentamos coletivamente e incorpora-os como uma fonte de progresso para as suas soluções e expertise. Em resposta ao crescimento da população mundial, ao aumento da esperança média de vida, aos processos de urbanização e à urgência de medidas para aliviar as mudanças climáticas, a Saint-Gobain está a repensar os espaços de vida e os métodos de construção, aplicando a sua experiência ao progresso na área de mobilidade sustentável e proteção da saúde de todos.

Todos os esforços em termos de sustentabilidade traduzem-se, por exemplo, na economia de energia gerada pelos produtos de isolamento da Saint-Gobain.

A Saint-Gobain investiu também no lançamento de um Fundo de Carbono interno. Implementado pela primeira vez numa região piloto - o Norte da Europa -, o fundo visa acelerar a redução das emissões não-industriais de CO2 através das ações quotidianas dos colaboradores e de investimentos direcionados para as instalações. Este Fundo de Carbono baseia-se no preço interno do carbono do Grupo para decisões de investimento, recentemente aumentado para 50€/tonelada de equivalente de CO2, e converte parte da redução das emissões de CO2 em dinheiro, com vista a financiar projetos que visem reduzir a pegada de carbono do Grupo, criando um círculo virtuoso. Esses projetos, propostos e selecionados pelos colaboradores, incidem sobre o seu ambiente profissional.

Os novos desafios da sustentabilidade têm, também, pautado a inovação e os novos produtos da Saint-Gobain de uma forma transversal. De que forma é que a empresa conseguiu fazer essa mudança e tornar-se numa das empresas mais sustentáveis tendo, inclusive já recebido prémios pelos seus produtos?

Em primeiro lugar, quisemos sempre que a Sustentabilidade fosse um eixo importante no nosso ADN e, por isso, as nossas equipas de I&D mantiveram esse foco como permanente no desenvolvimento de novas soluções. Aliás, o nosso centro de competências em Aveiro para o desenvolvimento de argamassas industriais de colagem de cerâmica, desde 2006 – ano em que foi criado - é reflexo disso mesmo. Em segundo lugar, porque queremos que o nosso plano de ação para a Sustentabilidade seja efetivamente traduzido em ações concretas, nomeadamente no que toca à nossa gestão interna e à oferta que produzimos para os nossos públicos.

Realizamos também vários investimentos neste sentido, como é o caso do investimento de 1,2 milhões de euros na linha de pastas do centro de produção da Saint-Gobain Weber, em Aveiro, assim como a construção de um novo Centro Logístico, no Centro produtivo da mesma sociedade no Carregado.

Com o investimento na nova linha de pastas em Aveiro, pretende dar-se resposta ao crescimento de vendas notado no mercado português, assim como reforçar a posição de liderança que a empresa assume na sua experiência e satisfação do cliente, nas necessidades do mercado, na produtividade, sustentabilidade, eficiência energética e conforto integral dos edifícios. Este investimento permitirá produzir novos produtos nas gamas de colagem e pavimentos, assim como ampliar a capacidade de produção dos produtos de revestimento de fachadas, contribuindo assim para um melhor serviço no que diz respeito ao fornecimento das soluções ETICS (isolamento térmico pelo exterior), aos clientes da marca Saint-Gobain Weber – líder no sector das argamassas industriais.

Ainda no que diz respeito à melhoria do serviço, com a integração na mesma sociedade das marcas ISOVER, Placo® e Weber foram investidos 600 mil euros na construção de um novo armazém logístico, no centro de Argamassas Industriais do Carregado, incrementando em 2000 m2 o nosso centro logístico. Desta forma, será possível otimizar cargas de diferentes gamas de produtos destas marcas num único espaço, reduzindo assim também a nossa pegada carbónica pela significativa redução de transportes, centralizando as entregas no mesmo local. Estima-se que este centro logístico esteja operativo ainda em Maio de 2021.

Podemos antecipar algumas novidades ou inovações que venham a lançar ainda este ano?

A Saint-Gobain sempre se distinguiu pela sua capacidade de se diferenciar dentro das várias áreas de negócio em que atua. Em 2021, foi mesmo nomeada como uma das 100 empresas mais inovadoras do mundo no ranking Clarivate Top 100 Global Innovator™ 2021, pela décima vez consecutiva. Sobre este eixo tão importante para o nosso ADN, é também interessante recordar que, desde o início da última década, a Saint-Gobain a nível mundial apresentou mais de quatro mil patentes, financiou mais de 100 teses académicas, desenvolveu significativas inovações de produto, melhorou os seus processos de produção, inovou no serviço ao cliente e na gestão da cadeia de abastecimento graças à tecnologia digital, ao uso de dados e inteligência artificial.

O Grupo, graças aos seus 3.600 investigadores, investiu 428 milhões de euros em Investigação e Desenvolvimento em 2020.

Já a nível nacional, também a Inovação tem sido desde sempre um pilar importante no desenvolvimento do grupo Saint-Gobain em todas as suas atividades. Como exemplo de uma das últimas inovações importantes, destaco o lançamento conseguido este ano pela marca Weber em Portugal, de um produto inovador e sustentável: o webercol Flex Lev, vencedor do prémio 5 estrelas, escolha nº1 da marca dos profissionais e com a atribuição de menção honrosa no prémio nacional de sustentabilidade. Este produto, é um cimento-cola para colagem de cerâmica, que utiliza 30% de matérias-primas recicladas provenientes de outras indústrias, contribuindo de forma muito positiva para o objetivo de redução de emissões carbónicas. Trata- se de uma solução criada no laboratório de Investigação e Desenvolvimento em Aveiro, o centro de competências da empresa para o desenvolvimento de argamassas para colagem de cerâmica à escala internacional. Foi o primeiro produto Saint-Gobain a nível mundial a ser lançado com estas características havendo já neste momento alguns países a seguir esta tendência lançada por Portugal.

Adicionalmente, este produto inovador apresenta uma excelente performance, possuindo propriedades que melhoram o seu desempenho e aderência. O webercol Flex Lev permite ter sacos com 12,5 kg com o mesmo rendimento que as argamassas tradicionais em sacos de 25 kg, sendo um produto que não exige esforço no transporte. Do ponto de vista de manuseamento, também exige menor esforço do que o habitual, o que se torna vantajoso para todo o processo em armazém, loja ou obra, promovendo a saúde e bem-estar dos utilizadores. De forma semelhante, os gastos energéticos e emissões de CO2 associadas a todo o processo de transporte de materiais são também consideravelmente reduzidos.

O produto apresenta múltiplas funções servindo para colagem de cerâmica, pedra natural e mosaico hidráulico, em pavimentos e paredes interiores, bem como em fachadas e pavimentos exteriores. Ao contrário do que usualmente acontece, a mais-valia de sustentabilidade aportada pelo webercol Flex Lev é alcançada sem que haja um aumento do custo da solução, o que permite que o benefício de sustentabilidade não signifique um custo acrescido para os seus utilizadores.

Entrevista a José Martos, CEO Saint-Gobain Portugal S.A. in Jornal Construir